O curativo para queimadura desempenha um papel crucial no cuidado e na proteção das áreas afetadas para uma cicatrização eficaz e minimizar o risco de complicações.
Este artigo aborda de forma abrangente o tema “Curativo para Queimadura”, apresentando informações importantes sobre o processo de tratamento e os diferentes tipos de curativos utilizados.
Exploraremos a importância da preparação adequada da ferida antes da aplicação do curativo, bem como a escolha entre curativos abertos ou fechados, dependendo da gravidade da queimadura.
Além disso, discutiremos a aplicação de curativos biológicos e sintéticos em casos específicos, bem como a relevância da excisão em queimaduras graves.
Preparação da ferida para a realização do curativo
Antes da realização do curativo para queimadura, é essencial realizar a preparação adequada da ferida, que inclui o desbridamento e a decisão sobre realizar um curativo aberto ou fechado.
- Desbridamento: O desbridamento é o processo de limpeza da ferida para remover tecidos necróticos, queimados ou contaminados, além de secreções e outros detritos. Esse procedimento é fundamental para criar uma ferida limpa e preparada para a cicatrização. O desbridamento pode ser feito de forma cirúrgica, mecânica ou enzimática, dependendo do tipo e da extensão da queimadura.
- Escolha entre Curativo Aberto ou Fechado: Após o desbridamento, a equipe de saúde deve decidir se o curativo será aberto ou fechado, com base na avaliação do estado da ferida e nas necessidades do paciente.
- Curativo Aberto: Nesse tipo de curativo, a ferida é exposta ao ambiente externo, sem ser coberta por um curativo ou curativo primário. Essa abordagem é utilizada em feridas limpas e que não apresentam risco significativo de infecção. O curativo aberto permite que a ferida “respire”, o que pode ser benéfico para a cicatrização em algumas situações.
- Curativo Fechado: O curativo fechado envolve cobrir a ferida com uma cobertura estéril, como gazes e ataduras, ou com curativos específicos que promovam a cicatrização e protejam a ferida contra infecções. Esse tipo de curativo é comum em feridas com maior risco de infecção ou em que é necessário um ambiente úmido e controlado para promover a regeneração do tecido.
A escolha entre curativo aberto ou fechado dependerá das características da ferida, da gravidade da queimadura, da presença de infecção, da experiência da equipe de saúde e dos protocolos institucionais.
É importante ressaltar que a preparação adequada da ferida antes da aplicação do curativo é crucial para o sucesso do tratamento e a promoção da cicatrização adequada da queimadura.
O acompanhamento regular e cuidadoso do curativo também é fundamental para garantir uma recuperação eficaz e prevenir complicações.
Excisão
O objetivo é remover a “eschar” ou tecido queimado, até que se atinja tecido viável, permitindo que aquela área seja enxertada (coberta), obtendo a cura (ou “fechamento”) das lesões das queimaduras.
É geralmente realizada em etapas de 10% a 15% da área corporal, iniciando-se 48-72h após a queimadura, após o controle agudo do paciente. É realizada no centro cirúrgico, sob anestesia.
A excisão, conforme a profundidade, pode ser: tangencial, até a gordura, até a fáscia:
- Excisão tangencial: a lesão de queimadura é removida em camadas sequenciais, tangencialmente à lesão, até que se obtenham sinais de viabilidade do tecido, com sangramento difuso ou em múltiplos pontos.
- Excisão até a gordura: toda a espessura da lesão é removida, com lâmina ou cautério, até a gordura viável, profunda à pele queimada.
- Excisão até a fáscia: toda a espessura da lesão, assim como todo o panículo adiposo profundo à lesão, são removidos, até, mas não inclusive, a fáscia.
Estes procedimentos geralmente provocam sangramento significativo, sendo quase sempre necessária a reposição do volume sanguíneo, com transfusões.
Excisão é o mesmo que desbridamento?
É importante mencionar que a excisão da queimadura não é o mesmo que desbridamento.
Embora ambos os procedimentos estejam relacionados ao tratamento de queimaduras, são diferentes em seus objetivos e abordagens.
O desbridamento é o processo de limpeza da ferida, enquanto a excisão é um procedimento cirúrgico específico para remover a pele queimada e preparar a área para o enxerto.
Ambos os procedimentos são importantes no tratamento de queimaduras, mas possuem objetivos diferentes e são realizados em momentos distintos do tratamento da lesão.
Tipos de curativos para queimaduras
Curativo para Queimadura Biológico
O curativo biológico é uma opção utilizada quando não há pele autógena ou homógena suficiente para cobrir uma ferida.
Também é útil em casos de lesões de segundo grau profundo ou lesões que necessitem de cobertura temporária eficiente.
Para isso, podem ser utilizadas membranas biológicas, que podem ser de origem humana (pele) ou de animais (pele de rã, pele de porco).
Essas membranas podem ser vivas ou não-vivas, o que significa que podem ser conservadas para manter a estrutura, mas sem viabilidade.
Curativo para queimadura sintético
Os curativos sintéticos são feitos de materiais sintéticos ou produtos de bioengenharia.
Eles podem ser usados para substituir temporariamente a pele ou podem ser projetados para causar uma reação local que favoreça o crescimento de tecido autólogo, criando um leito receptor para autoenxerto em algumas semanas.
sses curativos são particularmente úteis em casos de queimaduras extensas, quando não há pele autóloga disponível para cobrir a lesão imediatamente após a excisão.
Exemplos de curativo sintético para queimadura
Esse tipo de curativo é projetado para promover a cicatrização de feridas profundas e queimaduras extensas, oferecendo um ambiente propício para o crescimento e regeneração do tecido.
Balneoterapia
A balneoterapia consiste em um curativo para queimadura com lavagem da ferida, em um ambiente próprio, com o paciente sob o efeito de sedação venosa ou anestesia.
O paciente é colocado em uma mesa própria, recoberta por isolamento estéril, na qual a ferida é banhada copiosamente com os produtos indicados, obtendo-se a limpeza da mesma. Após a limpeza da ferida, segue-se a realização do curativo conforme a rotina descrita acima.
Curativo em região anatômica com enxerto de pele em queimaduras
O curativo geralmente requer cuidados especiais com imobilização, ocasionalmente sendo necessário uso de talas gessadas ou de material termomoldável, durante a fase inicial da “pega” do enxerto.
O enxerto de pele é realizado para se obter o fechamento da ferida de terceiro grau.
Pode ser realizado imediatamente após a excisão, ou mais tardiamente, em feridas que evoluíram com tecido de granulação.
No caso de feridas excisadas, o enxerto de pele é aplicado diretamente no leito obtido por meio da excisão.
No caso das excisões tangenciais, o enxerto é aplicado sobre a derme profunda viável, exposta através da excisão, no caso da excisão até a gordura, sobre a gordura viável, e nos casos da excisão até a fáscia, sobre a fáscia muscular.
No caso de feridas que evoluíram com granulação, esta deve ser removida mecanicamente antes da colocação das lâminas do enxerto.
Existe uma sequência para a realização destes curativos?
Sim, existe uma sequência específica para a realização dos curativos, especialmente em casos de queimaduras e feridas mais graves.
A sequência pode variar de acordo com a gravidade e a extensão da lesão, mas, de modo geral, a seguir está uma sequência comum para os curativos em pacientes queimados:
- Desbridamento Cirúrgico: Inicialmente, é realizada a limpeza e remoção mecânica de todo o tecido necrótico, epiderme e derme queimados. O objetivo é obter uma ferida limpa e livre de tecido morto.
- Aplicação de Medicamentos Tópicos: Após o desbridamento, podem ser aplicados medicamentos tópicos como sulfadiazina de prata, sulfadiazina de zinco, salicilato de sódio, enzimas (colagenases), entre outros, para auxiliar na prevenção de infecções e estimular a cicatrização.
- Curativo Aberto ou Fechado: Após a aplicação dos medicamentos tópicos, a ferida pode ser protegida com um curativo aberto ou fechado, dependendo da situação clínica do paciente e da preferência do profissional de saúde.
- Curativo Biológico ou Sintético (se aplicável): Em casos específicos em que não há pele autógena ou homógena suficiente, podem ser utilizadas membranas biológicas ou curativos sintéticos para cobrir a ferida temporariamente.
- Balneoterapia (se aplicável): Em alguns casos, pode ser necessário realizar curativos com lavagem da ferida em ambiente apropriado sob efeito de sedação venosa ou anestesia.
- Enxerto de Pele (se necessário): Em casos de queimaduras mais graves, pode ser realizado o enxerto de pele para fechar a ferida. A pele utilizada pode ser autóloga (do próprio paciente), homóloga (de outra pessoa) ou xenoenxerto (de outro animal).
- Imobilização (se necessário): Após o enxerto de pele, pode ser necessário imobilizar a região para permitir a “pega” adequada do enxerto.
É importante ressaltar que essa sequência pode variar conforme o protocolo específico adotado pelo serviço de saúde, a gravidade da lesão e a resposta individual do paciente ao tratamento.
A equipe de saúde deve sempre avaliar o paciente individualmente e seguir as melhores práticas para garantir uma recuperação adequada.
Troca do Curativo para queimadura
A troca do curativo do paciente queimado também exige técnica estéril, e pode ser realizado no leito do paciente, na sala de curativo, na sala de balneoterapia, ou no centro cirúrgico, dependendo da disposição arquitetônica ou da experiência de cada serviço.
Pode ser realizado sob o efeito de analgesia, sedação ou anestesia.
Dependendo da gravidade e extensão da lesão, pode ser realizado com intervalos que variam de 12h a 36h, quando a ferida é reavaliada, e o medicamento tópico ou o curativo com medicamento tópico, mantido ou substituído conforme o aspecto da lesão.
Os planos cirúrgicos futuros em relação à ferida do queimado também dependem do aspecto da lesão.
Geralmente, a rotina do curativo inclui a limpeza da ferida com clorhexidine a 2% ou polivinilpilirrolidonaiodo (PVPI) a 10%, seguida da aplicação do medicamento tópico de escolha, cobertura com gaze de malha fina, isolamento térmico, se necessário com algodão ortopédico, e ataduras de crepom.
Há curativos que são aplicados diretamente sobre a ferida, que trazem em sua composição a clorehexidina e/ou PVPI, com efeito de diminuição da contagem bacteriana local, podendo contribuir no tratamento ou minimizando a chance de infecção.
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